terça-feira, 12 de outubro de 2010

"CORPO IMAGEM DOS TERREIROS"; Projeto discute a experência ritual e a produção de fotografias- inicia agora, dia 14 de outubro de 2010



MOJUBÁ ASÉ!
Abaixo, segue  divulgação de mais um projeto do Ministério da Cultura, referente a corporeidade negra presente no universo iconográfico religioso nos Terreiros de Candomblé. È mais um incentivo no intuito a preservação e colaboração no processo de conhecimento não estereotipado desse segmento alicerçado devidamente enquanto área de conhecimento e patrimônio material e imaterial da cultura de matriz africana no Brasil. 
Torna-se portanto, que tal discussão seja acompanhada pelo Povo do Santo nos sentidos de colaboração, apropriação, identitária, contexto histórico e pertencimento ao nosso universo mítico - ritual. A preservação da tradição não deve ser sinônimo de estática ou tradicionalismo a cultura é um processo dinâmico, vivo, renovado, e com raízes fortes. 
Finalizando, reflitamos por tanto no sábio texto de Reginaldo Prandi, que que nos interpela e ilustra com sabedoria o significado e importância da palavra Axé, convidando-nos enfim a participar dessa dinâmica cultural, enquanto preservação da memória de nossa Religião de Matriz Africana.

Èkejì Luciana D'Oxum
Assessoria de Comunicação


Axé... o que é ?

 “ Axé é força vital, energia, princípio da vida, força sagrada dos orixás. Axé é o nome que se dá às partes dos animais que contêm essas forças da natureza viva, que também estão nas folhas, sementes e nos frutos sagrados. Axé é bênção,
cumprimento, votos de boa-sorte e sinônimo de Amém. Axé é poder. Axé é
o conjunto material de objetos que representam os deuses quando estes são
assentados, fixados nos seus altares particulares para serem cultuados. São
as pedras (os otás) e os ferros dos orixás, suas representações materiais,
símbolos de uma sacralidade tangível e imediata. Axé é carisma; é sabedoria nas coisas-do-santo, é senioridade. Axé se tem, se usa, se gasta, se repõe, se acumula. Axé é origem, é a raiz que vem dos antepassados. Os grandes portadores de axé, que são as veneráveis mães e os veneráveis pais-de-santo, podem transmitir axé pela imposição das mãos; pela saliva, que com a palavra sai da boca; pelo suor do rosto, que os velhos orixás em transe limpam de sua testa com as mãos e, carinhosamente, esfregam nas faces dos filhos prediletos.
Axé se ganha e se perde. A intensidade do axé de uma casa pode ser mensurada pelo número de filhos e clientes que seu chefe consegue arrebanhar. Axé é uma dádiva dos deuses, mas é preciso conhecer as fórmulas rituais corretas, perfeitas, para se chegar a ele. Isto também é axé, é conhecimento, é poder, é fundamento.
Axé também é a coisa enterrada, objetos de culto escondidos, primeiro
da perseguição policial, perseguição do branco, e mais tarde escondidos da
curiosidade do olhar profano, do interesse de quem não tem raiz, não tem
origem, aquele que é côssi, no linguajar-de-santo. Axé é sobretudo a casa de candomblé, o templo, a roça, a tradição toda. A matriz fundante de toda uma descendência. Axé é linhagem, é família-de-santo, é saber-se pertencente a uma descendência cuja origem é conhecida e comprovada por registros históricos, pelo trabalho do etnógrafo de outrora, pela prova da fotografia, hoje. Ter axé é ter legitimidade junto ao povo-de-santo. ” ( Reginaldo Prandi) 





Projeto contemplado pelo edital de debates Cultura e Pensamento 2009/2010, tem por objetivo discutir a produção de imagens fotográficas no contexto dos rituais religiosos do candomblé, para gerar um repertório capaz de pensar criticamente a manifestação cultural de matriz africana no Brasil, e suas imagens. Esta série de mesas-redondas é um dos desdobramentos do projeto Representações imagéticas das africanidades no Brasil, um dos selecionados do Programa em 2007 na categoria Debates on-line, publicado na revista Studium.
As discussões ocorrerão em outubro e novembro próximos, tendo como ponto de partida a projeção de imagens dos fotógrafos-debatedores em cada mesa, seguida de suas respectivas palestras. A proposta é envolver o público nessa dinâmica, permitindo intervenções, perguntas e comentários, bem como uma entrada no universo mítico-ritual. Os curadores do projeto contribuirão como mediadores para promover um debate de caráter informal, no sentido de aproximar dos participantes para abranger públicos diversos, inclusive leigos nos assuntos tratados.
As mesas foram compostas de acordo com dois principais eixos conceituais:
I) O corpo-terreiro e a experiência ritual – Este eixo tem a finalidade de traçar o surgimento dos terreiros e sua importância da formação do território brasileiro como uma forma de resistência simbólica e cultural dos descendentes de escravos e a importância das manifestações religiosas para assegurar o patrimônio de origem africana e sua manutenção no contexto da diversidade étnica brasileira, considerando o universo étnico das religiões que vai além da presença única de negros – o que demonstra a forte influência que essa cultura teve na formação da identidade nacional.
Este tema foi formulado, exemplarmente, por Muniz Sodré no livro O terreiro e a cidade (2002) e nos serve como ferramenta teórica para discussão. O geógrafo Rafael Sanzio Araújo dos Anjos (UnB) também a discute em suas preocupações geográficas, tratando especialmente dos territórios étnicos e das referências africanas, as ancestralidades para o entendimento da cultura brasileira. Mohammed ElHajji (UFRJ) contribui trazendo para as questões relativas ao corpo e imagem das diásporas africanas. Roberval Marinho (Opô Afonjá/UCB), Rita Nemenz (Tenda de Umbanda do Caboclo Imaraji) e Marco Aurélio Luz (UFBA/Ilê Asipá) trazem as discussões sobre o cotidiano em diferentes aspectos de suas atuações tanto como escritores, como iniciados ao culto, revelando suas matrizes. Reginaldo Prandi discorre sobre as relações entre imagem e a mitologia no cotidiano dos terreiros, e Marcelo Bernardo da Cunha (Mafro/CEAO/UFBA), sobre as iconografias e identidades afro-brasileiras.
II) O corpo-imagem e a produção de presença. Este segundo eixo tem a finalidade de fazer ressoar a discussão inicial, ressaltando o papel das imagens fotográficas no registro e difusão da experiência ritual, e na compreensão do universo cultural e sagrado dos terreiros. Assim, explora a capacidade da fotografia de agenciar debates contemporâneos.
Os fotógrafos André Vilaron, Duda Bentes, Jorge Luiz Alvarez Pupo, Adenor Gondim, Bauer Sá, Aristides Alves, Vantoen Pereira Júnior, Mirian Fichtner, Denise Camargo, Paulo Rossi, Márcio Vasconcelos, e o curador Diógenes Moura promovem essa discussão, por meio da análise de trabalhos fotográficos. Importante ressaltar os trabalhos de Mario Cravo Neto, Pierre Verger e José Medeiros, trazidos pontualmente pelos curadores do projeto, para inventariar as referências visuais sobre o tema.

PROGRAMAÇÃO

(atualizada em 09.10.2010)
[ Brasília/DF ]
Quando:
 14/10/2010 – 14h30
Local: UnB Campus Universitário Darcy Ribeiro – ICC Norte, prédio Minhocão – auditório da Faculdade de Comunicação – sala 610/9 bloco A subsolo
Palestrantes:
Rafael Sanzio Araújo dos Anjos, professor da UnB (O terreiro e o território)
Depoimento de Roberval Falojutogun Marinho, do llê Axé Opô Afonjá, professor da Universidade Católica de Brasília (Entender o cotidiano ritual é entender a vida).
Duda Bentes, fotógrafo e professor da UnB (Documentação visual de terreiros do Distrito Federal)
Projeção de fotografias do fotógrafo André Vilaron, com comentários de Tiago Quiroga, fotógrafo e professor da UnB.
Paulo Rossi, fotógrafo (Corpos e flores para Iemanjá)
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[ São Paulo/SP ]
Quando: 28/10/2010 -  às 15h
Local: Auditório da Ação Educativa – Rua General Jardim, 660 – Vila Buarque
Palestrantes:
Reginaldo Prandi, professor da USP (O terreiro e as imagens contraditórias)
Rina Nemenz, mãe-pequena da Tenda de Umbanda do Caboclo Imaraji (Representação, subjetividade e experiência ritual)
Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca do Estado (Um obi para a cabeça do mundo: arte e religiosidade na Pinacoteca do Estado do São Paulo)
Jorge Pupo, fotógrafo (Vodu-Santería: relações entre corpo e espiritualidade)
Denise Camargo, fotógrafa (Um díptico no espaço ritual)
Fernando Fogliano, artista do SCIArts e professor do Bacharelado em Fotografia  Senac (Linguagem e experiência: da concretude à abstração)
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[ Rio de Janeiro/RJ ]
Quando:
 11/11/2010 – 14h30
Local:
 UFRJ – auditório Anexo do CFCH 3º andar– Av. Pasteur, 250 fundos – Praia Vermelha)
Palestrantes/Abordagem:
Mohammed ElHajji, professor da UFRJ (Corpo e imagem da diáspora)
Projeção de fotografias do fotógrafo Márcio Vasconcelos (Zeladores de voduns e outras entidades, do Benin ao Maranhão)
Vantoen Pereira Júnior, fotógrafo (“Nego véio”, o resgate do Brasil negro)
Mirian Fichtner, fotógrafa (Cavalo do santo: religiões afro-gaúchas)
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[ Salvador/BA ]
Data: 18/11/2010 – das 18h30 às 21h30
Local: UFBA/CEAO – Auditório Milton Santos, do Centro de Estudos Afro-Orientais – Praça Inocêncio Galvão, 42, Largo Dois de Julho
Marco Aurélio Luz, Ilê Asipá e professor da UFBA (A dinâmica da civilização afro-brasileira)
Adenor Gondim, fotógrafo (Eu fui escolhido: imagem, crença, sincretismo)
Aristides Alves, fotógrafo (No terreiro de Mutá Lambô we Kaiango: uma experiência de fotografia e edição)
Bauer Sá, fotógrafo (Retratos: identidade, corpo e presença)
Marcelo Bernardo da Cunha, coordenador do Museu Afro, professor do CEAO/UFBA (Iconografias e identidades afro-brasileiras)
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