terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

À Cozinha

Motumbá Axé!

À Cozinha.
A cozinha brasileira é uma verdadeira fusão cultural: diferentes temperos aguçam o sabor, acrescentam cheiros e colorem os mais variados pratos de nossa culinária. Mas isso é somente uma pequena porcentagem da capacidade e utilidade que permeiam o cômodo bem requisitado dentro das casas. A cozinha vira um verdadeiro espaço de convívio, no qual são passados ensinamentos entre as gerações. Saberes populares são transmitidos através de receitas (que podem ou não cair bem para determinado momento), modos de comportamento, segredos de família, saberes...
Quem não aprendeu que a pimenta, por exemplo, esquenta o corpo, que tal folha serve para curar uma simples gripe ou até mesmo doenças mais graves, através de chás e banhos. Quais são as combinações, e o que não se pode misturar?
Quando iniciei no Candomblé uma das primeiras coisas que escutei de meu Babalorixá1 foi que: “Candomblé se faz na cozinha.”. Desde então, procurei estar presente nesse cômodo tão influente no cotidiano do Ilê Axé2 e é exatamente ali que, na maioria das vezes, ocorre o início dos rituais religiosos, onde são preparados os alimentos usados nos fundamentos. E que também se torna um espaço de convívio e aprendizado recíproco. Com o passar do tempo, comecei a reparar que estava reaprendendo o que já havia aprendido (me aperfeiçoando), mas ocorreram sutis diferenças, devido à conotação religiosa. E que há uma afirmativa muito forte da cultura afro-brasileira fazendo-se presente, muito mais que imaginava, na casa das pessoas e influindo no cotidiano individual e coletivoDiariamente comemos comidas similares que são preparadas para os Orixás, absorvendo a energia ali existente no alimento. Entendi que determinado prato, cor ou comportamento específicos causam-me mal estar por conta do estranhamento que o Orixá também tem com os mesmos, o que pode ser visto nas mais diferentes pessoas, inclusive as não ligadas à religião.
Se houvesse melhor clareza desse universo da religião de matriz africana, e entre outras tão massacradas pela cultura Grego-romana-judaica-cristã, com certeza haveria maior aceitação e tolerância das pessoas que não seguem essa ou aquela religião. A fobia deve-se ao não conhecimento do assunto – nós amamos somente aquilo que é de nossa esfera intelectual. E essa aversão é derivada da ignorância das pessoas (principalmente formadores de opinião) para determinados segmentos de credo que não têm conhecimento básico, acarretando uma distorção da realidade do cotidiano religioso tratado em questão. Diariamente, vemos acusações de conteúdos duvidosos e sem fundamentos, negando a verdade existente. Mensalmente são agredidos fiéis de diversas religiões não cristãs (principalmente os candomblecistas e umbandistas). Anualmente, são invadidos e violados os templos religiosos – fruto de um comportamento denominado INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, o qual é preciso extinguir para que possamos viver em uma sociedade mais plural e de respeito às diferenças, seja ela de cunho religioso, sexual, gênero, étnico/racial, estético, entre outros. Um Estado, de fato, laico3, sem a interferência de qualquer segmento religioso seria um bom começoEnfim, quando for visitar a sua cozinha lembre-se que ali esta plantada uma gama cultural, e que é a mesma cultura discriminada por certos segmentos que não tem a hombridade de aceitar a diversidade. Negando-a, e tentando abafar a todo custo o que há anos vêm mantendo-se vivo!

Texto enviado por:

 Guilherme Cedro
Graduando em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e Propaganda. PUC Minas - Faculdade de Comunicação e Artes
Militante do CELLOS Contagem (Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual)
Filiado ao CATABA MG (Casa de Cultura e Tradição Afro-brasileira de Minas Gerais) - Ilê Axé Ogunfunmilayo
 

Motumbá Axé,

Babá Mejeuí Erisvaldo D'Ogum
Equede Flávia D'Oxaguian


Assessoria de Comunicação
Luciana D'Oxum / Equede D'Ogum.

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